Hub Azul Portugal

MONETIZAR A SAÚDE DO OCEANO COM AS EÓLICAS OFFSHORE

Temos um modelo de negócio que monetiza a saúde do oceano: descarbonizar a energia e restaurar a saúde do mar, com uma indústria exportadora de tecnologia ESG geradora de lucro, emprego e impostos para o financiamento do Estado social democrático.

Por Ruben Eiras – Secretário-Geral do Fórum Oceano

É um facto cientificamente provado e não apenas “wishful thinking”: as eólicas offshore flutuantes são reais aceleradores de novo capital natural marinho, para além da produção de eletricidade e (potencialmente) hidrogénio renovável. Esta é a conclusão que o grupo de investigadores da Universidade do Minho retirou da investigação: cerca de 50 novas espécies usam as infraestruturas de amarração e flutuantes para se abrigarem e multiplicarem.

Esta constatação é assaz importante, não só porque comprova o impacto ESG positivo da indústria emergente das energias renováveis oceânicas, mas também porque abre novas perspetivas de industrialização sustentável do mar português e da respetiva estratégia de “project finance” sustentável: ou seja, combinar as eólicas offshore flutuantes com o setor emergente dos recifes artificiais aumentará o impacto ESG da infraestrutura, por via do efeito simultâneo de substituição energética (cash-flow descarbonizado), do crescimento da biodiversidade marinha (impacto ESG gerador de crescimento dos stocks piscatórios) e do aumento da capacidade oceânica de sequestro de carbono (se o bio-design dos recifes permitir o surgimento de florestas de macroalgas, mais atrativo ficará o investimento para trading no mercado de créditos de CO2).

Ou seja, com esta abordagem integrada de renováveis oceânicas e recifes artificiais maximiza-se a aplicação da “Teoria da Mudança” em uso pelo Fundo de Investimento Europeu, no que se refere à quantificação da ligação do desempenho do lucro relacionado com a performance ESG: quanto mais energia se produzir com as eólicas offshore flutuantes (vendas) não só diminuirá o consumo das fontes fósseis (efeito de substituição com impacto ESG), como também aumenta a biodiversidade marinha e a capacidade de captura de carbono azul (segundo e terceiro impactos ESG cumulativos).

As oportunidades para as empresas portuguesas
E agora vamos a números. Segundo os dados da plataforma Hub Azul Dealroom gerida pelo Fórum Oceano, estamos a tratar de dois setores que representam uma gigante oportunidade para Portugal, de duas naturezas: o valor de mercado empresarial da fileira das energias renováveis oceânicas já é de 6,9 biliões de euros, e encontra-se numa fase pré-comercial; o sub-setor emergente e “early stage” dos recifes artificiais e fundações para eólicas offshore, na categoria da Restauração Ambiental, com apenas 3 startups identificadas, já têm o simpático valor de mercado empresarial de 185 milhões de euros.

Além disso, de acordo com o Blue Invest Report 2023 da Comissão Europeia, a tendência é de aumento da exposição dos investidores nestas duas fileiras nos próximos 3 anos, sendo a das energias renováveis oceânicas a segunda, num total de 10 fileiras, que atrairá mais capital.

Mas em que cadeia de valor industrial destas fileiras deverá Portugal apostar? No setor dos recifes artificiais, tendo o país fortes empresas na construção civil e na engenharia marítimo -portuária, ainda vai a tempo de conseguir posicionar-se para um domínio integral da cadeia de valor.

Na fileira das energias renováveis oceânicas, as oportunidades de posicionamento são mais diversas, mas também com muito maior complexidade na escolha. Analisando os dados da plataforma Hub Azul Dealroom, para além da óbvia produção dos componentes e plataformas das eólicas offshore, há outros três nichos ainda com aparente espaço: serviços digitais (inteligência artificial e big data) e robótica para a gestão operacional dos parques eólicos flutuantes; otimização tecnológica dos navios de operações de manutenção para eólicas offshore; fundações para eólicas offshore que regenerem o ecossistema marinho.

Com o leilão das eólicas offshore flutuantes no horizonte, o impacto transformador desta oportunidade é claro para Portugal – temos um modelo de negócio que monetiza a saúde do oceano: descarbonizar a energia e restaurar a saúde do mar, com uma indústria exportadora de tecnologia ESG geradora de lucro, emprego e impostos para o financiamento do Estado social democrático.

Artigo publicado no Jornal de Negócios: https://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/colunistas/ruben-eiras/detalhe/monetizar-a-saude-do-oceano-com-as-eolicas-offshore

MERCADO B2B ALIMENTAR É A CHAVE DA BIOTECNOLOGIA AZUL

É o pragmatismo do empreendedor e do investidor que concretiza a paixão do cientista, e torna realidade a economia azul sustentável geradora de empregos e de riqueza inclusiva.

Por Ruben Eiras – Secretário-Geral do Fórum Oceano

A biotecnologia azul é propalada como uma área promissora para o desenvolvimento sustentável e crescimento inovador da economia do mar portuguesa. Com efeito, o potencial das suas aplicações é imenso: alimentar, cosmética, farmacêutica e até industrial. Além disso, tem a particularidade especial de muitas destas aplicações poderem ser realizadas em ambiente controlado, com replicação laboratorial e com uma extração mínima de biomassa a partir do ecossistema. E também é uma área em que Portugal é forte cientificamente.

Contudo, apesar de todas estas vantagens, o facto é que a fileira da biotecnologia azul tarda em entregar o valor comercial face às expectativas criadas. Vejamos os números e as tendências de investimento. De acordo com os últimos dados patentes na Hub Azul Dealroom, a plataforma digital de ecossistema que conecta investidores com empreendedores gerida pelo Fórum Oceano no âmbito do projeto PRR Hub Azul, o valor de mercado empresarial da fileira da biotecnologia azul não vai além dos 838 milhões de euros – em contraste, em comparação com outro setor emergente, o da energia renovável azul, este já se encontra num patamar de valorização de mercado de 6,9 mil milhões de euros. Ademais, no Blue Invest Report 2022, publicado pela Comissão Europeia e realizado pela equipa da PWC Portugal, a fileira da biotecnologia azul é uma daquelas em que os investidores perspetivam diminuir a sua exposição nos próximos três anos.

Como então explicar esta aparente desconexão entre a perceção pública elevada sobre a viabilidade da biotecnologia azul e a tendência de retração na comunidade de investidores? Primeiro, é preciso ter em conta que, geralmente, existe uma “decálage” temporal de atraso entre o momento das decisões dos investidores e a perceção pública de uma fileira. Ou seja, normalmente, os investidores, estando muito mais perto da dinâmica da realidade no terreno, antecipam a instalação da tendência dominante. E o que estamos a assistir na fileira da biotecnologia azul é exatamente este comportamento.

O risco elevado da biotecnologia azul
Segundo, quais as causas desta tendência de retração? A fileira da biotecnologia azul não é imune às dinâmicas dos eventos em outras áreas da biotecnologia. Ou seja, a condenação da empreendedora Elizabeth Holmes quanto ao modelo de negócio da sua startup Theranos imprimiu no mercado um perfil de risco “hiper-elevado” a investimentos em biotecnologia. Isto significa que o investidor terá um papel altamente prudente e conservador ao analisar modelos de negócio biotecnológicos.

Além disso, no caso particular de Portugal, o ecossistema empresarial vigente para a biotecnologia azul é estreito e com fraca escala. Com exceção no domínio alimentar, o nosso país não dispõe de grandes empresas com capacidade de investimento em alta escala e “em maratona” de longo prazo nos setores da cosmética e farmacêutica, por exemplo.

B2B: o mercado estratégico a explorar
Então significa que devemos simplesmente colocar a biotecnologia azul de lado e focar-nos em outros setores da economia azul? Nada disso. A realidade indica que é crucial identificar em que áreas da cadeia de valor da fileira da biotecnologia azul Portugal deve se posicionar estrategicamente.

Os dados da plataforma Hub Azul Dealroom irão nos ajudar a identificar vias possíveis. Quando se analisa a informação da lista de empresas por foco setorial biotecnológico, verifica-se que a maioria destas e com valorização mais elevada situa-se no sub-setor alimentar, sobretudo no fabrico de novos produtos alimentares, para o mercado b2b.

Portanto, um dos “insights” estratégicos possíveis a partir desta informação é que as startups portuguesas deverão concentrar o foco dos seus esforços na biotecnologia azul em inovação para a criação de “componentes alimentares” para uso no fabrico de produtos alimentares finais. Por exemplo, criação de uma farinha de algas para aplicação em barras energéticas, cereais de pequeno-almoço ou comida para animais de estimação.

À primeira vista, esta leitura pode ser interpretada como pouco ambiciosa, simplista e de baixa sofisticação. Mas no final do dia é o modelo de negócio que está a funcionar e a monetizar a ciência que fundeia a iniciativa empresarial – é o pragmatismo do empreendedor e do investidor que concretiza a paixão do cientista, e torna realidade a economia azul sustentável geradora de empregos e de riqueza inclusiva.

Artigo publicado no Jornal de Negócios: https://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/colunistas/ruben-eiras/detalhe/mercado-b2b-alimentar-e-a-chave-da-biotecnologia-azul

A IMPARÁVEL ONDA DE INOVAÇÃO NA NOVA ECONOMIA AZUL

Isto dos Descobrimentos não se fizeram indo a acertar”, frisou o emérito Pedro Nunes algures no século XVI. Não temos medo em errar – mas temos de estar sempre conscientes de não nos esquecermos de aprender com o erro. Sendo assim na nossa ação, Portugal será uma imparável onda de inovação na nova economia azul!

Por Ruben Eiras – Secretário-Geral do Fórum Oceano


A economia azul tem um potencial de crescimento muito assinalável, devido à multitude de setores que a compõem: pescas, aquacultura, transformação de pescado, portos, transporte marítimo, turismo, energias renováveis oceânicas, biotecnologia azul, enfim. Sendo assim, parece que, à primeira vista, é um setor propenso à atração de investimento e de geração de novos negócios.

Mas não é bem esse o caso. Apesar de registar um crescimento regular anual em Portugal (em média, até 1% anual desde 2012), de acordo com a conta-satélite da Economia do Mar, publicada pela Direção-Geral da Política do Mar (DGPM) e pelo Instituto Nacional de Estatística, e também de se verificar a mesma tendência no espaço da União Europeia, o facto é que investir na economia azul continua a ter um risco elevado.

E porquê? Primeiro, devido ao contexto do meio natural onde o investimento é implementado. O mar é o ambiente mais hostil à atividade humana depois do espaço sideral. O meio líquido marinho é instável, a salinidade corrói os materiais, a pressão impiedosamente esmaga ao passo que a profundidade aumenta, a comunicação faz-se primordialmente por sinais acústicos e visualização de imagem em situação física de elevada limitação.

Segundo, pela assimetria de informação existente não só do ecossistema marinho (ainda há muitos “gaps” de dados sobre o mar), mas também nos diversos setores que constituem a economia do mar. Isto é, como investidor, se quero focar o meu capital nas energias renováveis oceânicas e no transporte marítimo, vou ter muito melhor informação sobre o último setor, devido a este ter maior maturidade. Mas mesmo no “shipping”, essa informação é estreita, pois é uma indústria ainda muito alicerçada no paradigma “o segredo é a alma do negócio”.

Para mitigar a assimetria de informação no mercado da economia azul, e facilitar um ambiente de confiança que conduza a uma melhor conexão entre investidores e inovadores, o Fórum Oceano lançou o Hub Azul Dealroom no passado dia 22 de maio, a primeira plataforma digital para negócios da economia azul do mundo, no contexto da sua missão como responsável pela coordenação e desenho do modelo de negócio da Rede Hub Azul Portugal, em articulação com a Presidência do Conselho Estratégica do mesmo, presidido pela DGPM.

Com quase 1100 startups listadas em 10 setores da economia azul e com mais de 1200 fundos de investimento registados, a plataforma Hub Azul Dealroom funciona com base num motor de inteligência artificial avançado que não só atualiza automaticamente a base de dados, como também fornece uma poderosa ferramenta de “matchmaking” de investidores com startups.

Mas as funcionalidades não se ficam por aqui. O utilizador pode ter as suas listas de monitorização de empresas, fundos de investimento e aceleradores personalizadas, como também pode consultar os valores de mercado e rondas de investimento por setor de economia azul, segundo a categorização usada pela Blue Invest da Comissão Europeia. E as startups já podem também incluir um “pitch deck” no seu perfil para aumentar a atratividade junto dos investidores, sendo possível também identificar aquelas cujo modelo de negócio cumpre o “Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14 – Vida debaixo de Água”.

O acesso ao Hub Azul Dealroom é gratuito e é um primeiro resultado concreto do financiamento PRR em execução pelo Fórum Oceano, na missão que lhe é consignada como entidade gestora do Cluster do Mar Português e que aumentará em muito o valor dos nossos serviços aos nossos associados, posicionando-nos cada vez mais como uma associação empresarial fornecedora de serviços de inovação de valor acrescentado para a economia azul sustentável.

Prova da confiança nesta rota de navegação é a associação da Caixa Geral de Depósitos, da Euronext Lisbon, da Startup Portugal, do Katapult Ocean, do Porto de Lisboa e da Blue Invest da Comissão Europeia como “co-igniters” do Hub Azul Dealroom.

Mas não podemos embandeirar em arco e esquecer a humildade que tão estratégica é para construirmos um projeto truísta.

“Isto dos Descobrimentos não se fizeram indo a acertar”, frisou o emérito Pedro Nunes algures no século XVI. Não temos medo em errar – mas temos de estar sempre conscientes de não nos esquecermos de aprender com o erro.

Sendo assim na nossa ação, Portugal será uma imparável onda de inovação na nova economia azul!

Artigo publicado no Jornal de Negócios: https://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/colunistas/detalhe/a-imparavel-onda-de-inovacao-na-nova-economia-azul